Maria Augusta Arruda, diretora do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) é uma das vozes mais influentes na pesquisa científica e na inovação tecnológica do País. Com uma trajetória que atravessa instituições de ponta no Brasil e no exterior, Maria Augusta combina experiência acadêmica, gestão estratégica e dedicação à formação de novos talentos. Em nossa conversa, ela compartilha a visão sobre o papel do CNPEM e do LNBio na promoção de ciência de excelência, discute como descobertas científicas se transformam em soluções práticas para saúde e biotecnologia, e reflete sobre a inspiração e os desafios de liderar uma instituição que simboliza a força da ciência brasileira integrada e colaborativa. Acompanhe.

Foto – Vítor Rangel
1. Boletim RPT – O CNPEM é reconhecido por reunir, em um mesmo campus, quatro laboratórios nacionais e uma infraestrutura científica de ponta, única na América Latina. Como você explicaria o papel do CNPEM — e, em especial, do LNBio — na promoção da ciência, da inovação e da formação de talentos no Brasil?
Maria Augusta Arruda – O CNPEM representa um modelo singular de infraestrutura científica integrada. Ao reunir, em um mesmo campus, quatro laboratórios nacionais — LNBio, Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) e Laboratório Nacional de Biorenováveis (LNBR) e uma grande área de Tecnologia e Engenharia — o Centro cria um ecossistema transdisciplinar que conecta desde a pesquisa fundamental até a inovação tecnológica de ponta. Essa integração permite que perguntas científicas complexas sejam abordadas de forma sistêmica, com impacto direto sobre os grandes desafios do país e do mundo. Nossas instalações abertas, sem nenhum custo à comunidade cientifica mundial, e com ênfase no Brasil e Sul Global, catalisa novos achados
O LNBio, em particular, atua na interseção entre biologia, biotecnologia e saúde, agindo também como um espaço de capacitação e democratização do acesso a tecnologias de fronteira — de microscopia ótica avançada a biologia estrutural e química medicinal e de produtos naturais. Cada pesquisador que passa pelo LNBio leva consigo não apenas resultados científicos, mas também uma formação baseada em colaboração, ética e ciência aberta, fortalecendo a base de talentos que sustenta o futuro da ciência brasileira.
2. Boletim RPT – O CNPEM tem se destacado pela capacidade de articular ciência básica, pesquisa aplicada e inovação tecnológica. Como o LNBio/CNPEM contribui para transformar descobertas científicas em soluções práticas, que impactem áreas estratégicas como saúde, biotecnologia e desenvolvimento industrial?
Maria Augusta Arruda – O LNBio, bem como todo o CNPEM, tem a missão de converter descobertas científicas em soluções que gerem valor social e econômico. Para isso, conectamos pesquisa básica, desenvolvimento tecnológico e inovação em um mesmo continuum. Trabalhamos para compreender mecanismos moleculares complexos — como aqueles que regulam processos celulares, doenças ou interações entre organismos — e traduzimos esse conhecimento em aplicações que beneficiam áreas estratégicas com foco em saúde humana.
Um exemplo concreto é a forma como articulamos plataformas multidisciplinares, integrando biologia estrutural, bioquímica, genômica e modelagem computacional com o uso de fontes avançadas de luz síncrotron. Essa abordagem permite acelerar o ciclo de inovação e nos posiciona como ponte entre o conhecimento e a aplicação, catalisando parcerias com universidades, indústrias e instituições públicas para dar suporte à transmutação da ciência em soluções que respondam às necessidades de saude pública.
3. Boletim RPT – Para encerrar, o que mais inspira você ao liderar uma instituição como o LNBio dentro do CNPEM — um espaço que simboliza a força da ciência brasileira quando trabalha de forma integrada?
Maria Augusta Arruda – O que mais me inspira é testemunhar, todos os dias, a potência da ciência brasileira quando atua de forma integrada, colaborativa e comprometida com o bem comum. Liderar é serviço; servir à comunidade do LNBio dentro do CNPEM significa cultivar esse ambiente onde a excelência técnica se combina com um propósito maior: contribuir para uma ciência que seja, ao mesmo tempo, ambiciosa e solidária, capaz de responder aos desafios do nosso tempo — das doenças emergentes às transformações ecológicas e sociais em curso.
Também me inspira ver o impacto humano e formativo do que fazemos. Cada jovem cientista que passa por aqui, cada técnico ou pesquisador que se desenvolve, cada projeto colaborativo que rompe fronteiras disciplinares ou institucionais reforça a ideia de que o conhecimento é uma força transformadora. O CNPEM é, acima de tudo, um símbolo de confiança no futuro do Brasil por meio da ciência — e o LNBio trabalha para ser a expressão viva dessa missão.
Minibio
Maria Augusta Arruda é diretora do Laboratório Nacional de Biociências do Brasil do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Ela lidera grupos de pesquisa que utilizam abordagens experimentais de biologia integrativa de ponta para temas que vão desde a biologia fundamental até interações hospedeiro-patógeno e descoberta de medicamentos impulsionada pela biodiversidade.
Anteriormente, foi professora titular de Farmacologia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora em Saúde Pública na Fiocruz (Ministério da Saúde do Brasil). Passou mais de uma década na Universidade de Nottingham (Reino Unido) em diversas funções, desde a criação e liderança da Parceria Brasil-Nottingham em Descoberta de Medicamentos até o apoio ao relacionamento estratégico da Universidade com o UK Research and Innovation (UKRI). Mais recentemente, foi chefe de Desenvolvimento de Pesquisadores e presidente da Rede de Equidade Racial da universidade.
Maria Augusta possui graduação e doutorado em Farmacologia pela UERJ. É membro afiliada do Robinson College da Universidade de Cambridge, membro eleito da Sociedade Britânica de Farmacologia e dedica-se à implementação de intervenções na Cultura de Pesquisa para alto desempenho na Ciência.
Crédito do texto – Cristiane Barbosa