Zebrafish brasileiro chama atenção em congresso europeu e reforça inovação da Fiocruz em toxicologia

Com apoio da Rede de Plataformas Tecnológicas (RPT), pesquisador Magno Maciel Magalhães apresenta avanços do modelo zebrafish e fortalece cooperações internacionais.

Foto – Plínio

Um pequeno peixe tropical de apenas quatro centímetros roubou a cena em um dos maiores eventos científicos da Europa. O zebrafish (Danio rerio), modelo experimental que vem transformando os estudos toxicológicos e farmacológicos na Fiocruz, foi o protagonista da apresentação do pesquisador Magno Maciel Magalhães no 59º Congresso das Sociedades Europeias de Toxicologia (Eurotox 2025), ocorrido em setembro, na Grécia.

Representando a Plataforma de Ensaios Toxicológicos em Peixes – FioFishTox (RPT 11O INCQS/Fiocruz), Magno levou à conferência os resultados de pesquisas que utilizam o peixe como organismo-sentinela para avaliar a toxicidade de substâncias químicas, fármacos e poluentes. O trabalho despertou interesse pela aplicação inovadora do modelo em protocolos internacionais e pelo uso de análises automatizadas de comportamento.

“Foi uma experiência maravilhosa, que superou todas as minhas expectativas. Foram dias intensos de aprendizado, troca e novas parcerias. E, sem o apoio da Rede de Plataformas Tecnológicas (RPT) da Fiocruz, nada disso teria sido possível”, destacou o pesquisador.

O potencial do zebrafish

O zebrafish (Danio rerio) é um peixe de água doce fácil de criar em laboratório e com surpreendentes semelhanças genéticas com os seres humanos. Na FioFishTox, ele é utilizado principalmente no teste FET (Fish Embryo Toxicity Test), descrito no Guia 236 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), que avalia a toxicidade aguda em embriões de peixe.

Além desse protocolo, a equipe vem implementando ensaios comportamentais automatizados, que analisam, sem interferência humana, como os peixes reagem à exposição a diferentes substâncias. Isso permite investigar, por exemplo, se compostos químicos alteram o desenvolvimento neuronal.

“Esses testes trazem precisão e reprodutibilidade, eliminando o viés da observação e abrindo novas possibilidades para estudos em neurotoxicologia e farmacologia”, explicou Magno.

Parcerias que cruzam fronteiras

Durante o 59º Eurotox, Magno apresentou um trabalho que combina novas técnicas em implantação na FioFishTox. As trocas com outros pesquisadores resultaram em sugestões valiosas e futuras colaborações.

“Foi muito produtivo encontrar o grupo da professora Danielle Palma, da USP de Ribeirão Preto, e o professor Carmine Merola, da Universidade de Teramo, na Itália. Estamos escrevendo juntos um projeto de cooperação internacional para o edital Erasmus”, contou.

RPT como motor de oportunidades

O apoio da Rede de Plataformas Tecnológicas (RPT/Fiocruz) foi essencial para viabilizar a viagem e garantir a visibilidade internacional da pesquisa.

“Sem esse apoio, seria inviável participar. Vivemos um período de restrições orçamentárias, e o investimento da RPT foi determinante para representar a Fiocruz e trazer de volta novos conhecimentos e parcerias”, afirmou.

Próximos passos: novos testes e sonhos maiores

A FioFishTox já realiza seus primeiros ensaios comportamentais e deve implementar duas novas metodologias até 2026, com base nas sugestões discutidas durante o congresso. O objetivo é fortalecer o portfólio de serviços e consolidar a plataforma como referência nacional em toxicologia alternativa.

“Nosso sonho é ir além: criar, no futuro, uma plataforma voltada a estudos sobre câncer com o modelo zebrafish, algo que está ganhando força no mundo todo”, projetou Magno.

Segundo ele, eventualmente, várias novas análises serão oferecidas. “Além da possibilidade (aqui é um sonho pro futuro) de criarmos outra plataforma, ofertando serviços relacionados ao estudo do câncer com o modelo zebrafish, que está cada vez mais em alta no mundo”, revelou.

Sobre a Plataforma FioFishTox (RPT 11O INCQS/Fiocruz)

A Plataforma de Ensaios Toxicológicos em Peixes oferece serviços para avaliação da toxicidade e segurança de substâncias químicas, fármacos e produtos naturais. Utilizando o modelo zebrafish, contribui para o desenvolvimento de metodologias alternativas, éticas e alinhadas às boas práticas internacionais, fortalecendo a pesquisa biomédica no Brasil.

Você sabia?
O zebrafish é considerado um “organismo modelo” pela comunidade científica internacional.
🔹 70% dos genes humanos têm equivalentes no zebrafish.
🔹 Seus embriões são transparentes, o que facilita a observação do desenvolvimento.
🔹 O desenvolvimento acelerado permite resultados rápidos em testes toxicológicos.

Crédito do texto – Cristiane Barbosa